No sétimo dia de
setembro Deus,
erguendo sua
espada de fogo
declarou:
-Independência
ou Morte. Fiat Brasilis (faça-se o Brasil).
Estava criado o
Mundo Brasil. Viu Deus que era bom e foi descansar.
Mas o negro na
senzala encafifado com o fato,
resolveu
indagar:
-O que é
independência?
Deus sabichão,
já com jeitinho brasileiro, respondeu:
-Não se preocupe
em saber. Depois
a gente dá um jeitinho.
-Mas o que é
independência? - insistiu o afrodescendente.
-Pode ser, por
exemplo, tema para um samba-enredo- respondeu o bom Deus, inventando o
Carnaval.
- Que tal a
idéia? Não está mal!
-Mas eu preciso
entender. O que é independência?- pergunta de novo o negro
-Isso ainda não
está à altura do seu entendimento - retrucou Deus, já meio irritado, mandando o
cafuzo esquecer o assunto confuso:
- Deixe isso de
lado! Não é assunto pra negro!
-Se não é para
negro é para tupi - vociferou o índio, saindo da mata vazia.
E Deus com seu
cajado, no cavalo de chefe de Estado, esbravejou:
-Isso não é
coisa para índio. Isso é para o Primeiro Mundo, civilizado.
-Se não é para
índio é para mulato - cantou o mulato, estupefato.
E Deus, no seu
trono divino falou mais alto:
-Isso não é
coisa para mulato. Isso é assunto complicado.
Mas aí vieram o
operário, a dona de casa, o visionário, o artista com sua arte
Veio gente de
toda parte, o muleque de rua, o caipira, o pau-de-arara.
Todos gritaram
ao mesmo tempo, perdendo a paciência e a calma:
-O que é
independência?
-Independência é,
por assim, como diria, na verdadeira concepção da palavra, assim, assim... Entenderam
meus filhos? É!
E, saindo dos
trilhos, concluiu:
-Vão à merda! Isso
não é coisa para vocês!
Encurralado,
enraivecido, desesperado, emputecido,
Deus então tomou
uma decisão,
Fazer um arranjo
em sua invenção.
Acabar com as
dúvidas
Eliminando a
indagação.
Silêncio
celestial (ou sepulcral?).
Mas quem prestar
a atenção,
atrás dos muros,
ouvirá sussurros:
-Independência?
Independência?
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